terça-feira, 3 de novembro de 2009

Remexendo o Baú no Feriado

De volta à rotina. Hoje é dia de sessão na Câmara de Vereadores, amanhã trago as novidades com as principais pautas que estarão no Programa Câmara em Destaque.

Mas agora gostaria de compartilhar uma história bonita, que ouvi da minha mãe neste feriado prolongado. Foi bom demais o feriado, eu, minha mãe e minha linda e amada filha ficamos juntinhas no melhor lugar do mundo...Canto Grande....

Minha mãe nasceu lá... e no sábado a noite, após o jantar começamos a relembrar as histórias antigas...sempre admirei demais meus avós maternos..quando chego em Canto Grande as pessoas me comentam muito do meu avô. Recordo-me pouco dele, lembro que ficava pendurada no portão de casa, esperando ele vir me ver... e vinha..de longe via aquele senhor alto, de cabelos brancos, simpático e esbelto, com chapéu de camurça preta....mas ele faleceu cedo...nos privou de sua presença...ficou a querida e amada vó Dinha.....uma senhora baixinha, magra, que após a morte do vô só usava vestido preto, mas muito, muito querida...sorridente, brincalhona....me dava de presente vários brinquedos. Na adolescência deu meu primeiro álbum de Michael Jackson, e dançava comigo na sala de casa....me deu também o álbum do Menudo..simmmmmm eu fui fã do Menudo...
Enfim... o que quero na verdade compartilhar é uma passagem muito bonita de meu avô Antenor, nas décadas de 50 e 60, talvez também 40, mas a mãe não se recorda lógico....
Meu avô que morava em Canto Grande, hoje um bairro do Município de Bombinhas, Santa Catarina, mas naquela época era apenas uma localidade, que pertencia a Porto Belo, era comerciante, na verdade um mini empresário, possuía salga de camarão, várias embarcações, e também um pequeno comércio de secos e molhados, uma venda como se dizia antigamente. Minha mãe relembrou as épocas de fartura do camarão, na costa de Canto Grande. “Os funcionários do meu pai saiam cedo, de madrugada mesmo, a madrugada toda nos escutávamos o barulho do motor do barco, enquanto um se distanciava o outro era ligado, e lá iam eles buscar camarão, retornavam só pela manhã” iniciou minha querida mãe, e eu? Bem atenda, ouvindo e pensando... essa conversa vai longe, se render vou compartilhar com os colegas no blog.
Continuando... a mãe contou que quando os homens do mar voltavam o serviço era em terra, descarregar, na salga mulheres já estavam a espera para cozinhar e descascar o crustáceo que eu adooooooooooooro...,qdo terminavam era noite, e com lamparinas nas mãos minha mãe acompanha minha avó para entregar para os parentes próximos um pouco do camarão capturado naquele dia...hoje a localidade possui energia elétrica, naquele tempo só a base das lamparinas mesmo..elas atravessavam a praia toda para entregar o quinhão de cada família...e isso se repetiu inúmeras vezes..toda a juventude da minha mãe.
Todos que ajudavam neste processo eram funcionários do meu avô, que já naquela época já dava sinais de ser um bom publicitário além de bom samaritano e comerciante. No final do mês, hora de acertar as contas com todos, mas em dezembro era especial... Antes de pagar os funcionários, ele mesmo, de posse de uma caneta e papel e com a ajuda da minha avó, fazia uma lista de todos os funcionários, suas respectivas esposas e filhos, no outro dia, embarcavam em uma lancha, os dois mais alguns funcionários rumo a capital Florianópolis, lá compravam um presente para cada. “Para as mulheres um corte de tecido para fazer vestido, saias, camisetes, para os homens um corte de tecido para confeccionar calças e camisas, e tudo bom, de seda, os tecidos que estavam na moda” comenta minha mãe. Ela conta ainda, que o próprio vô, embalava os presentes e colocava o nome de todos. No dia do pagamento, era uma festa, além do pagamento justo, meu avô entregava aos funcionários um calendário do próximo ano, com o nome da empresa, viu só, mesmo semi-analfabeto, meu avô já sabia como divulgar seu negócio... continue....
Ao lado do meu avô tinha sempre uma caixa enorme, cheia de presentes (o que já citei) além do pagamento e calendário ele entregava também o presente que trouxe da Capital e embalou com carinho e respeito. Imagina como esses funcionários humildes saiam? Todos satisfeitos e contentes. “A maioria guardava o corte de tecido para fazer roupas novas para comemorar o Dia de São Sebastião, em janeiro, era um festival de tecidos novos nos vestidos das mulheres e nos trajes dos homens” acrescenta minha mãe.
E você deve estar se perguntando e as crianças, ele esquecia delas? Imagina.... todos tinham seus presentes garantidos. Naquela época era costume as crianças fazerem um ninho e colocarem em algum lugar para o Papai Noel deixar o presente de Natal... e adivinha onde as crianças acreditavam que o bom velhinho chegava? Isso acertaram na casa de meu avô, uma casa muito bonita, que ficava na estrada geral de Canta Grande, em frente a venda e próximo do salão de baile que também era dele. Enfim... as crianças nas vésperas de Natal, iam na casa dele e deixavam o tal ninho, ele colocava o nome de cada um e deixava em cima da cama do padre, ah, sim...a casa do meu vô era tão grande e considerada a mais chick do local, que quando o Padre ia celebrar missa na pequena igreja, também construída por intermédio de meu avó, ficava na casa dele. Durante a noite meu avô embrulhava os presentes e colocava nos ninhos. “Para as meninas bonecas, louças de barro, para os meninos carrinhos de madeira, bolas e outros brinquedos artesanais da época” lembra minha mãe. No dia de Natal era um congestionamento de crianças na casa do Tio Dodô, como era carinhosamente chamado meu avô. Todos queriam saber se o Papai Noel havia passado ali e deixado algo para eles. “ Além de fazer esse mimo para a criançada, ele ainda brincava com cada um, “será que ele passou, eu ouvi um barulho durante a noite, mas vá lá no quarto do padre e confere veja se o seu ninho está cheio”comenta a mãe, conforme o vô falava para os pequenos. E não é que tinha, todos saiam com os olhinhos brilhando, a estrada geral ficava repleta de crianças brincando e felizes com os presentes que o Papai Noel havia deixado para elas. Não sabiam que essa era a verdadeira felicidade para meu avó. Que o seu coração era massageado a cada sorriso e olhinho brilhante imagino o que ele sentia... Porque é muito bom fazer o bem, ver crianças felizes... e a felicidade pura é assim mesmo, está nos gestos mais simples. Muitos anos meu avô repetiu a mesma ação, acredito que tenha deixado marcas maravilhosas em muita gente. Com a velhice ele adoeceu, se mudou para Itajaí para fazer o tratamento e acabou falecendo no hospital. Conta uma prima de minha mãe, que no dia que meu avô faleceu Canto grande ficou triste, o sino da igreja foi tocado durante todo dia, a cada meia hora um assumia o posto, uma forma singela de homenagear aquele homem ímpar que ajudou muito gente, que doou terrenos para noivos, que empregou famílias inteiras que manteve viva no coração de muita criança a esperança, a certeza que Papai Noel existe e está bem próximo.
Se eu já amava meu querido avô, imagina com essa linda história... e tem mais..fica para a próxima...Tenham todos uma semana abençoada!

2 comentários:

  1. Eu não cheguei a conhecer o Vô Antenor, mas já sabia de partes dessa história pq a Tia Íris contava sempre um pouco quando eu ia na casa dela, em Santa Luzia com o pai e a mãe...
    Taí um exemplo de extrema bondade a ser seguido!
    E nem precisamos ir tão longe pq fazemos parte dessa descendência...

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  2. Eu não sabia dessa história porque aqui em casa eu sempre sou o último a saber de tudo :-(

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